quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Como enfrentar o Capitalismo?



O sistema capitalista impõe um modo de vida competitivo, individualista e consumista. A cada dia, novas necessidades são criadas e a população está sempre seduzida a consumir. A satisfação dos desejos que surgem ficam praticamente impossível, pois eles são infindáveis.
É a substituição do SER pelo TER. De um lado está uma minoria poderosa de donos dos meios de produção e do outro a maioria de trabalhadores que dispõem apenas de sua força de trabalho para ser explorado.
Com a crescente “globalização”, o mercado mundial adquiriu uma característica de capitalismo monopolista, onde as grandes empresas monopolizam o mercado ditando as regras da vida financeira e imprimindo suas decisões à população.
A propaganda assumiu um papel importantíssimo, direcionando e manipulando as vontades do consumidor. O supérfluo vira produto de primeira necessidade.
A chamada Indústria Cultural vai modificando os conceitos e valores, que se distanciam cada vez mais da Ética e da Moral.
Com a situação estabelecida, a saída está na resistência cultural, na inclusão social, na retomada da solidariedade, da cooperação com serviços voluntários, na conscientização da voracidade desse modelo capitalista, na contestação dos valores vigentes, na promoção dos valores éticos e morais, na busca pela igualdade social e a implementação do desenvolvimento sustentável.
Aos poucos, os alicerces do padrão civilizatório capitalista vai sendo minado até ser rompido.
Dando lugar para que um novo modelo possa se desenvolver e ser instituído.
SALETE MICCHELINI



Poema: O presente não é imutável
Autor: Bertolt Brecht (1898-1956)


Nós vos pedimos com insistência:
Não digam nunca: “Isso é natural!”
Diante dos acontecimentos de cada dia
Numa época em que reina a confusão
Em que corre sangue
Em que o arbitrário tem força de lei
Em que a humanidade se desumaniza,
Não diga nunca: “Isso é natural!”
Para que nada passe a ser imutável!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Filósofo medieval: Santo Tomás de Aquino


Impressionou-me a dimensão da obra de Tomás de Aquino, quer seja na sua produtividade, quer seja na sua intencionalidade. Com estratégia e brilhantismo, próprio das mentes privilegiadas soube mesclar as luzes de Aristóteles para clarificar o Cristianismo.
Na concepção de Aristóteles, também adotada por Tomás de Aquino, toda substância corpórea é dualista composta de partes complementares, uma indeterminada e passiva, que é a matéria e outra determinante e ativa que é a forma.
A Ontologia Tomista reside no preceito que o ser compõe-se de ato e potência. Sendo o ato, equivalente à realidade e à perfeição. Potência seria então, a não-realidade e a imperfeição. Somente em DEUS, ato e potência seriam a mesma coisa. Deus é o ato puro, é o ser pleno e completo. Deus é o ser necessário e absoluto, portanto inquestionável, mas com existência racionalmente provável; portanto independente de toda a questão filosófica. Concluímos daí, de acordo com seu ensinamento que à Filosofia cabem os problemas do mundo e à Teologia o conhecimento racional, demonstrado e provado da existência de Deus.
Com relação à alma, entendo que Tomás de Aquino considera haver o princípio da vida contido no ser. No homem existe a alma espiritual, superior e que o transcende. Ela seria imaterial e imortal onde manifestam as atividades do intelecto e da vontade é a alma racional.
Às plantas, atribui-lhes a alma vegetativa (que se alimenta, cresce e se reproduz). Aos animais, a alma sensitiva (que se alimenta, cresce, se reproduz, sente e se move). A alma racional (do homem) faz tudo isso e ainda pode entender e querer, sendo por conseguinte, uma alma superior. Apesar da alma espiritual ser única a cada pessoa e imortal, ela só terá vida plena em um corpo.

SALETE MICCHELINI

Filósofo medieval: Santo Agostinho


Nascido na província romana de Tagaste (África) em 354 d.C., Aureliano Agostinho faleceu em Hipona (Argélia) em 430 d.C aos 66 anos, ficou conhecido como Santo Agostinho.
Desfrutou a vida até completar 32 anos, teve um filho, mas depois se converteu ao Cristianismo, quando conheceu Santo Ambrósio. Nessa época, atravessava uma profunda crise existencial. Professor e estudioso das correntes filosóficas pré-socráticas, retirou delas, alguns eixos que nortearam seus ensinamentos.
Agostinho se influenciou pelo Maniqueísmo persa, quando admite o Dualismo que domina o Universo: o corpo e a alma, a luz e as trevas, o bem e o mal, numa incessante luta e num constante esforço humano para manter-se virtuoso e bom.
Adotou do Ceticismo a insuficiência sensorial humana para a formação de juízos absolutos e corretos, já que o conhecimento sensorial é instável, ilusório e deficiente para se chegar à verdade.
O Neoplatonismo também lhe acrescentou a importância da razão para estabelecer a concepção de verdade pura, eterna e Una; que só é possível no “mundo da idéias”. Será através da elevação da alma numa fusão mística com o divino, que se poderá chegar ao conhecimento verdadeiro.
Assim, Agostinho, organizou seu pensamento, tornou-se cristão, padre, bispo e foi consagrado santo. Escreveu os primeiros textos buscaram um argumento racional para a fé.
“Compreender para crer, crer para compreender”. (Santo Agostinho)

Salete Micchelini

Internet: um bem ou um mal para a criança e o adolescente?



A tecnologia da Internet nascida nos E.U.A., na década de 60, graças aos interesses militares do Pentágono, se transformou numa ferramenta global.
Sua presença era, antes, restrita ao cotidiano de empresas, de meios de comunicação, de órgãos públicos e universidades; agora se expandiu e popularizou.
Já está presente em domicílios, em lan-houses e a cada dia com maior facilidade de acesso aos jovens.
Como todas as invenções revolucionárias, a Internet também provoca reflexões como: Positiva ou Negativa? Bem ou Mal? Benefícios ou Malefícios?
Ainda hoje se discute a influência do cinema, da televisão, dos videogames, dos celulares na vida das crianças e dos adolescentes.
Benefícios? Centenas. Malefícios? Centenas.
O fato concreto é que temos que aprender a lidar com todo esse aparato eletrônico, pois dessa evolução tecnológica não temos como escapar, ou seja, é um caminho sem retorno.
A Internet pode ser um espetacular meio de desenvolvimento de conhecimento intelectual , de pesquisa científica, de diversão e entretenimento, de cultura e informação como também pode ser uma arma de enorme poder de destruição!
Família e escola devem orientar os jovens sobre as vantagens e as desvantagens de estarem conectados à rede. Os adultos mais conscientes dos perigos dessa “faca de dois gumes” devem acompanhar e alertar aos pequenos cidadãos, que estão em fase de formação para os perigos encontrados “on-line”.
Sempre usando o bom senso, mostrando o que podemos tirar de proveito para nossa vida e também o que pode afetar cruelmente a educação e à vida.
Enfim, as inovações tecnológicas estarão sempre acontecendo, cada vez mais o respaldo da família e da escola se fará necessário para encaminhar nossos jovens em sua trajetória para um bom caminho no futuro!
Salete Micchelini


quarta-feira, 17 de outubro de 2007

"PENSO, LOGO EXISTO" (Descartes)


“Cogito, ergo sum”( Descartes)
Quando utilizamos a nossa faculdade de pensar, estamos existindo. O ato de pensar implica em conhecer, criticamente, a realidade da qual fazemos parte. Acontece que, muitas vezes, desconhecer é mais cômodo, é menos trabalhoso.
A inércia mental é a morte do pensamento, é a não-participação, é o alheamento total à realidade. Pensar leva à ação transformadora que faz a vida se movimentar e fluir... Não-pensar leva à estagnação e à mesmice semelhante à inação da morte.
Muitas pessoas passam toda a sua existência de forma irrefletida ou alienada, isso pode ser chamado de VIDA?
O corpo está vivo é claro, mas o mesmo não pode ser dito para o “pensar”... Quando o “pensar” está morto, uma vida de ação, de movimento, de conhecimento libertador foi desperdiçada.
Só o “pensar” dá sentido à existência!
SALETE MICCHELINI

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O nascimento da Filosofia na pólis grega



O berço grego da Filosofia encontrou todas as condições necessárias para ser seu local de nascimento e desenvolvimento. Isso não descarta que a racionalidade não existia, mas o saber mítico imperava e atendia a quase todos os anseios do povo da época.
A cultura grega era muito desenvolvida em pontos relevantes que até hoje influenciam a vida ocidental e a Mitologia começou a ser insuficiente para explicar novas visões.
Acontece que, uma nova dinâmica social surgiu na vida da população grega. Então, começaram a despertar as primeiras contradições, dúvidas e conflitos entre o pensamento mítico e o pensamento racional; que se aflorava; para seu posterior exercício, fortalecimento e desenvolvimento.
Vieram as incursões marítimas, os gregos com suas embarcações chegaram aos locais nunca antes pisados e onde, supostamente, habitavam os deuses e monstruosidades, mas nada descobriram de diferente ou fabuloso.
Através da observação da natureza, durante as estações do ano, perceberam a repetição de fases e ciclos naturais de chuva, frio, floradas e criaram um calendário; deixando de atribuir aos deuses todas as mudanças e intempéries climáticas.
A necessidade de produção de alimentos, a fabricação de artesanato, de utensílios domésticos, as trocas foram aproximando as famílias e formando cidades movimentadas . Era em praça pública (Ágora) que as pessoas podiam se encontrar, comercializar, discutir idéias , dúvidas e questionamentos sem respostas plausíveis.
Surge a possibilidade de registro do pensamento através da utilização da escrita. Os fenícios chegaram e apresentaram sua escrita, que foi aprimorada e desenvolvida para a escrita alfabética dos gregos.
A vontade coletiva no espaço público dá início à discussão , produção de leis e política. A palavra do cidadão em discurso público se torna um direito de emitir o pensamento com argumento e também de ser contra-argumentado.
Para facilitar o comércio, onde as coisas concretas eram trocadas por semelhança (escambo), passaram a fazer o cálculo de valores semelhantes de coisas diferentes; veio a cunhagem de peças pequenas que representavam os valores: as moedas.
A PÓLIS surge e se consolida como necessidade e expressão da vontade do cidadão. Os fenômenos atribuídos aos deuses, perdem sua base de compreensão e se tornam problemas solucionáveis por meio de observações, de tentativas, de exercício de raciocínio.
“A Filosofia é grega e filha da Pólis.” ( Chatelet ). As colônias gregas Jônia e Magna Grécia viram surgir os primeiros filósofos, os críticos, questionadores e pensadores do saber existente e do saber real.
Os primeiros lampejos da reflexão filosófica eram: descobrir um princípio, uma origem (ackhe) de tal maneira que dele se pudesse concluir, como conseqüências racionais e lógicas, as explicações para a realidade. Esse princípio poderia ser, de um ponto de vista lógico e mental, uma proposição extremamente geral, a partir da qual fosse possível extrair conclusões válidas.
Poderia ser também no campo físico, alguma coisa material que, por força de transformações e mutações dessem origem a todas as coisas e a todos os acontecimentos. Construíram teorias que tentavam explicar racionalmente, ou seja, sem a presença de fator mítico, o Cosmos e toda a realidade existente.
Cada pensador partiu para uma especulação e a fundamentava para o convencimento de sua idéia. Tales de Mileto encontra a ÁGUA como a origem; Anaxímenes atribui ao AR; Demócrito propõe uma partícula- o ÁTOMO; Empédocles estabelece quatro elementos: TERRA, ÁGUA, AR e FOGO. Assim, não há mais unidade de pensamento. É o início da efervescência filosófica, pois a pluralidade de explicações domina, onde antes só havia unanimidade.
As divergências borbulhavam a respeito do princípio de todas as coisas, sem se valer da Mitologia. Por conseguinte, na passagem da fantasia mitológica para o pensamento racional houve uma ruptura quanto à atitude das pessoas subordinadas aos deuses. Enfim, os primeiros questionamentos filosóficos rejeitavam a interferência sagrada para obter uma explicação mais discutida e problematizada, de forma independente e com mais coerência entre razão-natureza. A natureza deixa de ser manipulada pelos deuses para ser objeto de pensamentos abstratos para buscar novos rumos.

Salete Micchelini

FILOSOFIA PARA CRIANÇAS A PARTIR DAS SÉRIES INICIAIS


Se estivermos pensando a Educação como um processo que necessita de estratégias e de metodologias eficazes, faço aqui algumas observações sobre a importância de se incluir no currículo escolar, desde as séries iniciais do Ensino Fundamental, da disciplina “Filosofia”.
São muitas as críticas feitas aos programas e aos currículos de ensino elaborados pelo Sistema. Conteúdos desnecessários, falhas nas seqüências dos conteúdos de uma série para outra, excesso, falta ou distorções de informações, programas desatualizados entre inúmeras outras reclamações são feitas por professores e especialistas que atuam nas escolas.
Percebe-se uma urgência de uma ação transformadora que venha a gerar mais interesse e participação democrática, mais eficiência no pensamento crítico. Talvez esteja na hora de iniciar uma experiência educacional inovadora, que mostre ás crianças a utilidade dos procedimentos filosóficos para se conhecer a realidade que nos cerca.
A valorização da Filosofia como conteúdo, como uma atitude cotidiana e uma forma de desenvolvimento intelectual pode advir da sua inclusão no currículo das séries iniciais do Ensino Fundamental.
Na escola, encontramos um universo de experiências cotidianas, de crenças, de opiniões, de preconceitos e outros tópicos que são propícios e adequados para a reflexão filosófica desde a mais tenra idade.
Quem sabe se colocando a Filosofia, bem mais cedo na vida da criança, como parte integrante das principais áreas das ciências do conhecimento, ela retome seu posto perdido de “Rainha das Ciências”?
Sabemos que a Filosofia existe há mais de 25 séculos. Dela surgiram e, pouco a pouco, se emanciparam, as várias ciências particulares e consagradas, que foram definindo seus objetivos, seus métodos e seus resultados próprios.
Cada ciência, ao se desligar da Filosofia, foi se enobrecendo e agigantando, sendo cada fez mais considerada necessária e útil.
O fato não se repetiu com a Filosofia. A partir do século XIX, a Filosofia já estava limitada como ciência e como meio de conhecimento através da consciência reflexiva (talvez por influências Positivistas e Racionalistas).
Interesses políticos e ideológicos do Estado contribuíram para excluir e desprestigiar alguns conteúdos didáticos e supervalorizar outros, em sua função e benefício.
Atualmente, diante de tanta novidade, tanto progresso e desenvolvimento tecnológico, com a massificação da cultura, a manipulação das idéias, o crescimento da desigualdade social, a elitização do conhecimento as pessoas nunca precisaram tanto refletir cada vez mais cedo sobre sua condição social e histórica.

Vale citar as palavras de Luis Althusser:
“Ora, é através da aprendizagem de alguns saberes práticos (savoir-faire) envolvidos na inculcação massiva da ideologia da classe dominante que são em grande parte reproduzidas as relações de produção de uma formação social capitalista. Isto é, as relações de explorados com exploradores e de exploradores com explorados”

Jean Piaget (1896-1980) que tanto estudou e desvendou as engrenagens do raciocínio e suas diversas etapas, concluiu que a criança tem uma forma própria e ativa de raciocinar e de aprender.
Assim sendo, a criança já poderia ter o contato inicial com a Filosofia entre as fases “Pré-Operatória” e a “Operatória-Concreta”, que são as fases decisivas na construção do raciocínio abstrato.
Uma máxima da teoria piagetiana é que o conhecimento é construído na experiência. Para Piaget, o que permite a construção da autonomia moral na criança é o estabelecimento da cooperação em vez da coação e do respeito mútuo no lugar do respeito imposto através da autoridade.
Dentro da escola, isso significa democratizar as relações para formar sujeitos autônomos, críticos e transformadores. Considerando as conclusões de Piaget, a inclusão da Filosofia nas séries iniciais contribuiria e coincidiria com as etapas onde a potencialidade do pleno desenvolvimento do pensamento abstrato e reflexivo estaria se aflorando.
A Filosofia sempre teve conexões íntimas e reais com as outras ciências, na articulação de pensamento, abrindo campos para novos saberes e novos progressos intelectivos.
Levantemos essa bandeira para a inclusão da Filosofia desde as séries iniciais do Ensino Fundamental em todas as salas de aula do Brasil!
A presença da Filosofia mais cedo na vida da criança e numa etapa de suma importância para a construção e evolução de seu raciocínio anteciparia as competências e habilidades que tanto pregamos como essenciais para o ser humano.
Valores como o respeito mútuo e ao bem comum, direitos e deveres, laços de família e de solidariedade, tolerância e justiça social começariam a ser cultivados e brotariam de forma espontânea.
Dessa forma a escola estaria contribuindo na construção, de verdade, do cidadão que queremos para nós e que desejamos difundir para a ação transformadora da sociedade.
A criança seria conduzida para questionar mais e reproduzir menos. Questionar o que parece óbvio, para adquirir a capacidade de problematizar com abstração, para depois se apropriar reflexivamente da elaboração de uma solução significativa da questão.
Assim sendo, a Filosofia não seria uma disciplina “distante” e “alheia” ao currículo da criança, mas sim uma presença contextualizada no cotidiano escolar, familiar e no entorno social, histórico e cultural dos fundamentais anos da vida da criança.
A Filosofia seria necessária, útil, agradável e produtiva de seres humanos melhores.
SALETE MICHELINI

A FILOSOFIA E A RELIGIÃO


O ser humano e o sagrado caminham lado-a-lado. O homem, ao longo de sua trajetória histórica na Terra, sempre procurou e continuará a procurar uma sustentação para sua existência, para direcionar sua frágil e finita duração real.
Essa existência terrena breve e, às vezes, cheia de sofrimentos, de injustiças, de angústias, leva o homem em busca de algo mais perene, mais duradouro ou eterno.
Dessa incessante busca surgem vários caminhos que nos remetem ao plano das explicações plausíveis para determinado acontecimento em determinado momento histórico. Assim, surgem as manifestações culturais ligando o humano ao divino, o real com o irreal, o mundano ao sagrado.
A Filosofia se interessa por todas as questões relativas à cultura do ser humano. Os saberes humanos, suas verdades, seus procedimentos, suas práticas tornam-se questões de interesse filosófico.
O ser humano talvez seja, dentre todas as espécies, a mais fraca e indefesa. Impossibilitado de sobreviver isoladamente, o homem reúne-se em grupos. Portanto, a diversidade de grupos sociais e culturais faz surgir uma diversidade de crenças e fé religiosas.
Essa força religiosa atua nos grupos humanos de forma tão poderosa que pode conduzir totalmente a vida das pessoas.
Durkheim, em um de seus brilhantes legados sobre esse instigante assunto diz:
“...existe algo de eterno na religião, que está destinado a sobreviver a todos os símbolos particulares nos quais o pensamento religioso, sucessivamente, se envolveu. Não pode existir uma sociedade que não sinta necessidade de manter e reafirmar a intervalos, os sentimentos coletivos e idéias coletivas que constituem sua unidade e personalidade.”
A Filosofia então, através do pensamento crítico numa atitude reflexiva indaga as razões, as causas e efeitos, enfim, o sentido dessas ações religiosas, questionando qual é a importância, a finalidade, a utilidade delas na vida do ser humano.

Salete Micchelini

O comportamento agressivo chamado BULLYING




Cientistas, antropólogos, sociólogos, psicólogos estudam alguns fatores que tentam explicar o comportamento humano. Eles incluem caracteres genéticos e hereditários, os componentes da evolução, de psicologia comparativa e dos aspectos ambientais que provocam determinadas ações e reações do comportamento humano.
Alguns questionamentos surgem e provocam interrogações que incomodam tanto quanto o mal estar de não saber determinar com segurança sua origem e sua solução.
Sabe-se que, a freqüência de comportamentos agressivos tem aumentado, a criminalidade assusta e surpreende cidadãos, cientistas e especialista.
O pior é que o cidadão impregnado de uma ansiedade busca uma proteção que parece alimentar a violência. A pessoa se arma, se refugia numa espécie de fortaleza que mais se assemelha a uma prisão.
Segundo o filósofo Jean-Paul Sartre, a violência sempre se faz passar por uma resposta à violência alheia.
Afinal, violentos são os outros?
Alguém nasce violento ou é o ambiente que favorece o aparecimento de atos agressivos e violentos?
Preocupam-me os atos agressivos em faixas etárias cada vez mais baixas, atos agressivos estão também presentes na esfera escolar. Como um ato agressivo pode surgir entre jovens estudantes, contra seu semelhante, de forma gratuita?
Assim, farei algumas observações e comentários a respeito do comportamento agressivo na escola ou seu entorno, que foi denominado de BULLYING.
Bullying é um termo inglês para um comportamento agressivo que vem acontecendo em algumas escolas ou em seus arredores. Apesar de, ser hoje detectado, em quase todos os países do mundo, o pioneiro nos estudos sobre o assunto foi o psicólogo norueguês Dan Olweus, no início dos anos 70, na Inglaterra, onde ele vivia.
Foi justamente um fato chocante da crônica policial inglesa, envolvendo jovens estudantes, que chamou a atenção do Dr. Dan Olweus que, sistematicamente, passou a estudar e registrar esses fenômenos ocorridos em escolas.
Segundo Dr. Dan Olweus, o Bullying teve a sua primeira definição que seria nos seguintes princípios: um(a) jovem estudante é vitimizado(a) e abusado(a) através de ações físicas, ações verbais diretas ou indiretas por parte de um ou mais colegas, dentro ou próximo do estabelecimento de ensino. O fato pode ser ou não presenciado pelos demais colegas, que ficam impotentes diante da situação e, quase sempre fica oculto, sem ser levado ao conhecimento superior.
Tais comportamentos visam intimidar, humilhar, rechaçar , machucar ou constranger um(a) colega, que é escolhido(a) de forma aleatória ou por uma característica própria. As vítimas tanto podem ser alunos de bom comportamento, alunos novatos, alunos com alguma deficiência física, alunos com auto-estima baixa, alunos desajustados ou até alunos que se sobressaiam na capacidade de aprendizagem. Todos são, potencialmente, uma vítima para um ataque de Bullying.
Formas verbais intimidativas e humilhantes de Bullying, são as mais comuns, o que não quer dizer que sejam menos danosas. Tomemos o exemplo de um aluno gordinho, um aluno com orelhas maiores, um aluno que usa óculos, com dentes tortos, assim por diante, as agressões orais ou escritas o marcarão para sempre de forma profunda, prejudicando toda a sua vida psicológica.
O que faz com que colegas se tornem “valentões” e se voltem contra membros do seu próprio grupo?
Que fatores estão atuando nesse tipo de desvio precoce de comportamento maldoso e injustificado?A ciência está em alerta e voltada para responder a essas questões. Em recente estudo publicado pelo neurocientista Alessandro Bartolomucci, do Instituto de Nacional de Pesquisa da Neurociência de Roma, escreveu:
“Nos animais, a agressividade é tipicamente medida pela freqüência dos ataques dirigidos a um intruso que ultrapasse os limites do seu território. Mas, é uma medida indireta, porque a agressão é um comportamento, enquanto a agressividade é um estado motivacional, um conjunto das alterações neuroquímicas e fisiológicas que estão na base da agressão e da violência.”
O fato é que, antropólogos, sociólogos, psicólogos, filósofos e demais cientistas nunca foram tão necessários para desvendar as raízes da agressividade e da violência.
Na tentativa de explicar alguns tipos de violência, alguns cientistas têm sido levados a olhar também para fora do indivíduo, para o ambiente que o rodeia, ou seja, as cidades.
Ali, a conjunção de fatores aparentemente ligados à questão é infindável. Há problemas como: má distribuição de renda, o desemprego, o narcotráfico, o despreparo policial, a impunidade, a corrupção, o desgoverno e tantos outros.
Mas, mesmo sob todas essas influências alguns indivíduos não se tornam violentos e agressivos ...e outros nunca se tornam...
Esses indivíduos pacíficos também deveriam ser estudados. O caminho da moderação, da atitude sensata, da posição conciliatória faz parte da capacidade de sentimentos humanos. Por que não estudá-lo também? Se houver uma possibilidade de ensina-lo, quer seja através de técnicas e treinamentos ou mesmo de tratamento, tudo poderá nos valer.
A grande maioria da comunidade científica concorda com uma interação entre tendências genéticas e influências ambientais controlam o comportamento humano.

Nas palavras do neuropsiquiatra da Universidade de Massachusetts (EUA), Dr. Craig Ferris percebe-se a ironia da incerteza:
“O comportamento é 100% hereditário e 100% ambiental.”
O antropólogo inglês Dr.Richard Wrangham, em seu livro “O Macho Demoníaco” (1998, Editora Objetiva) após décadas de observação do comportamento de nossos “primos” genéticos, os chimpanzés, demonstra que eles fazem uso de agressões gratuitas e com requintes cruéis. Os chimpanzés, além de terem um grau de inteligência e sensibilidade cometem atitudes traiçoeiras, inexplicáveis e extremamente perversas, sem motivo algum.
A ciência tem feito a sua parte, a família e os educadores devem admitir a questão e encará-la de maneira cuidadosa e atenta, principalmente, por estarmos dentro da escola e próximos ao estranho comportamento.


SALETE MICCHELINI