
Razão e Sensibilidade
“Ser ou não ser, eis a questão!”
Eu digo: - Saber é a questão!
É esse o tema do presente artigo que vai abordar um dos dois grandes capítulos da Filosofia, que é o que trata da Gnosiologia. Por um momento, deixemos a Ontologia. Para depois retomá-la em seu ramo metafísico. Assim chegamos a um ser que existe, que esse ser quer saber e quer conhecer a realidade.
Segue-se uma modesta reflexão.
Platão ou Aristóteles? Corpo ou Alma? Ciência ou Filosofia? Razão ou Experiência? Quem mais brilhantemente abordou a questão foi Immanuel Kant (1724-1804) que dedicou sua vida a desafios filosóficos. Dentre eles, estava o de estabelecer as origens do conhecimento, os limites do saber e se, realmente, somos capazes de conhecer a realidade.
A chamada Era da Modernidade inaugurada com René Descartes (1596-1650) trouxe a possibilidade de conhecer a verdade. Descartes afirmava que, para se chegar ao conhecimento verdadeiro é preciso colocar todos os nossos conhecimentos em dúvida, sob suspeita.
Ao estabelecer o processo metódico da dúvida, Descartes desconsiderou todas as percepções sensoriais, todos os conceitos formados sobre os objetos materiais. Além de duvidar da própria realidade e do teor dos pensamentos que criamos. A única coisa de que não se pode duvidar é que o pensamento existe.
Assim, o Racionalismo e Descartes nos ensinaram que o conhecimento das coisas externas deve ser obtido pelo trabalho lógico da mente com seus raciocínios.
Mas, surge outra corrente, que inclui algo novo, chegam os empiristas ingleses e dizem ao inusitado, pois até o momento não se falava na experiência sensorial.
O Empirismo, advindo dos filósofos ingleses, estabelece que, o conhecimento se dá através de nossas experiências. Para eles, podia se eliminar toda a noção de idéia inata, por ser a mesma muito imprópria e incompreensível.
Os empiristas, dessa forma, consideraram que o conhecimento provinha de nossa percepção do mundo externo ou uma análise daquilo que captamos feita pela nossa mente.
Nesse impasse, brilha a genialidade conciliatória ou crítica de Immanuel Kant (1724-1804) com suas obras. Foi a chamada Era dos Iluministas, onde reinava o esclarecimento numa atitude crítica.
Kant distanciou-se dos sistemas racionalistas, por reconhecer os limites da razão. E, mostrou que, sem a consciência desse limite, a razão se torna onisciente e onipotente, perdendo o vínculo com a liberdade e se tornando irracional.
Para Kant, o conhecimento se efetiva no instante em que as percepções e os conceitos são reunidos sob a forma de uma afirmativa ou de uma negativa, compondo um juízo. Antes desse juízo, não havia nenhuma operação determinante de raciocínio.
Os juízos chamados por ele de analíticos e sintéticos ( a priori e a posteriori) irão tanto aumentar o nosso conhecimento como esclarecer nossos conceitos.
Segundo Kant, é impossível conhecermos as coisas tais como são, ou seja, as coisas em si mesmas. O homem conhece aquilo que pode perceber das coisas.
Em suma, o conhecimento não se dá nem pelo sujeito nem pelo objeto, mas pela relação estabelecida entre essas partes. O que captamos das coisas são os fenômenos característicos das coisas que podem ser diferentes das coisas em si.
Assim, creio que a melhor forma de conciliar Racionalismo e Empirismo seria atribuindo mais importância à experiência sensível, fenomenológica, e, simultaneamente, desmistificando o poder absoluto da razão para que tenhamos um conhecimento, mesmo que limitado da realidade.
Alguns dilemas estão fadados a acompanhar o ser humano por toda a sua existência. São, deveras, enigmáticos e intangíveis para terem, unanimemente, uma abordagem única e aceitável pelos pensadores.
Ouso dizer que não deveriam ser conciliados por serem de origem contrária, mas poderiam sim ser unidos e interligados. Onde um fica obscuro, o outro esclarece. Onde um termina, o outro se inicia.
Enfim, para que a riqueza de suas proposituras sejam respeitadas e conservadas, esses dilemas só poderiam ser somados um ao outro.
Genialidades para a sua existência para tentar elucidar a questão. Com profundo respeito e admiração ao labor filosófico, resta-me conciliar as duas correntes epistemológicas entrelaçando-as e reverenciando ambas.
Salete Micchelini