terça-feira, 25 de novembro de 2008

Novos paradigmas filosóficos e científicos - Revolução Científica




No período compreendido pelos séculos XV, XVI e XVII, a Europa passou por transformações radicais. Mudaram-se as estruturas sociais, as produções artísticas, as convicções religiosas, os poderes políticos, as atividades econômicas com novas concepções filosóficas e novos saberes chamados científicos.
A expansão marítima ampliou a Cartografia existente e os horizontes terrestres. Uma nova classe social emergia e se firmava com domínio econômico.
Todo o conhecimento existente pedia um novo ordenamento, pois as verdades aceitas até então, estavam totalmente desmoralizadas ou sob suspeitas. Nas Universidades, um saber voltado para o homem veio a calhar com toda essa mudança.
Foi nesse contexto que se alteraram os paradigmas filosóficos e científicos para outros inovadores contornos.
“Foi uma época que exigia gigantes e forjou gigantes pela força do pensamento, pela paixão e caráter, pela universalidade e erudição.” (Engels).
A renovação do pensamento intelectual iniciou-se na Itália em meados do século XIV e atingiu seu apogeu no século XVI. O mundo medieval, marcado por dogmas da Igreja, apresentava a visão Teocêntrica da realidade, ou seja, tudo se explicava e se bastava em Deus. Da vontade divina tudo resultava: os fenômenos da natureza, o ordenamento social, as desigualdades de riquezas, de poder, de oportunidades, a predestinação e assim por diante.
À Igreja cabia elaborar e instituir as verdades da época como, por exemplo, quem seriam os eleitos para o reino dos Céus e quem arderia no fogo do Inferno. A Igreja também detinha o monopólio do saber acadêmico e se legitimava como a única representante e interlocutora de Deus na Terra.
Um novo olhar religioso surgiu após a Reforma. Enfraquecida, a Igreja assistiu o surgimento de novas formulações no campo teológico-filosófico, ancoradas nas mudanças político-econômicas que contribuíram para formar um novo parâmetro de conhecimento.
A Europa emergiu do Medieval e entrou no Renascimento. Foi uma transformação radical de consciência e criatividade com a retomada dos grandes nomes da cultura da Antiguidade Clássica. Restauraram-se idéias de todas as áreas do saber, que novamente foram reverenciadas.
Com a conduta pouco sagrada da Igreja cresceu a celebração do indivíduo, era o Humanismo que brotava nas universidades trazendo uma valorização do homem. O homem se volta para si mesmo como parte integrante da natureza, valorizando-se progressivamente. Podia-se assim, acreditar na capacidade humana e nas possibilidades dele intervir na realidade.
Era a visão Antropocêntrica trazendo marcas de individualismo e de racionalismo.Individualismo que advinha da libertação do homem dos dogmas sagrados e forçava-o a competir com seus semelhantes pela sobrevivência, fruto de um mercantilismo comercial. Racionalismo que estava intimamente ligado ao Individualismo, pois para competir e vencer o outro, o homem necessitava crer em si mesmo e utilizar-se de seus atributos intelectuais. Elaborando melhores estratégias, ou seja, colocando a razão como meio de se obter determinado fim.
Foi, justamente, em meio a esse contexto humanista, que aconteceram posturas antiescolásticas e antimedievais de grandes pensadores e intelectuais renascentistas. Em virtude de seus posicionamentos, de suas produções literárias e artísticas, muitos deles foram perseguidos, torturados, excomungados e mortos pela Igreja.
Mas, foi impossível deter a força criativa e filosófica dos gênios, que de forma intensa e audaciosa não se dobrou, nem abriu mão de suas idéias revolucionárias. A capacidade do homem de conhecer e explicar foi maior que a força opressora e assassina do poder.
A crítica humana vinha consistente e bem fundamentada, em relação à visão tradicional, sobretudo no que diz respeito às explicações dos fenômenos naturais e cosmológicos. Já não satisfaziam as respostas centralizadas na vontade de Deus, pois se podia observar, medir, calcular e concluir. A razão começa a abrir novos caminhos e atalhos em busca da compreensão da natureza e dos mistérios do Cosmos.
Daí, esse avanço fazer parte tanto do caráter filosófico como também do avanço científico, pois surgiu dos questionamentos filosóficos.
Houve também uma grande mudança no espaço geográfico terrestre vinda da expansão marítima e da descobertas do novo continente. Os detentores do saber perceberam que, se não conheciam bem a Terra podiam também não conhecer bem o Céu. Isso trouxe dúvidas e impôs uma atitude ainda mais crítica e científica aos sábios. Surge o Heliocentrismo, como uma visão espacial e cosmológica inovadora e passível de cálculos. O olhar para os Céus se modificou com a teoria coperniana. A formulação de Nicolau Copérnico de que o Sol era o centro do Sistema Solar abala e destrói a duvidosa teoria do Geocentrismo que vigorava até então.
Homens de mentes brilhantes não faltaram para formular dúvidas e tentar decifra-las por toda a Europa. Leonardo da Vinci, Bernardino Telésio, Nicolau Copérnico, Johannes Kepler, Tycho Brahe, Giordano Bruno, Galileu Galilei, Francis Bacon, Isaac Newton, René Descartes devem ser citados com destaque, assim como outros importantes colaboradores.
Era a Revolução Científica que se consolidava, forjada no pensamento crítico e filosófico para dar ao mundo uma explicação digna.
Nascia uma nova forma de produzir conhecimento, que pretendia criar um trajeto mais seguro e provável para se chegar a uma verdade.
A Ciência Moderna não foi construída isoladamente, foi, sim, uma construção coletiva, seqüenciada, sofrida e fruto do reflexo de novas estruturas sociais globais ocorridas na sociedade européia que permitiram tal avanço.
A nova concepção científica trouxe uma nova metodologia, uma nova linguagem matemática, muitos critérios de observação, de experimentação e muitos olhares duvidosos no lugar das certezas.
Daí para frente, foram muitos progressos, uma vez que visões alternativas e mecanismos científicos foram surgindo a cada momento, tendo com abertura, as trilhas feitas no século XVII.
Das mudanças de paradigmas filosóficos e científicos ocorridos da Idade Média para a Renascença e, posteriormente, à Modernidade destaca-se a substituição de uma forma obtusa, submissa e contemplativa do homem diante de inquestionáveis verdades do Medievo para um modo de conhecer a realidade mais racional, criterioso e científico na Modernidade.
Nesse novo modelo o homem não só quer conhecer, mas também transformar e interferir na sua real condição no mundo. Exercendo suas potencialidades intelectuais de forma plena e com liberdade de pensamento.
Vale ressaltar que, as novas concepções filosóficas e científicas encontraram uma grande aliada: as novas técnicas de impressão de livros, que difundiram e popularizaram os novos saberes e pensamentos filosóficos.
Salete Micchelini

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